Alimente o seu corpo de movimento físico.

Ontem estava debruçada em um artigo publicado na revista científica “Scientific American”, sobre como o nosso corpo evoluiu, ao longo dos últimas 2 milhões de anos, para depender de movimento, e assim poder funcionar melhor. Esse é um dos temas pelos quais venho estudando cada vez mais, pois ao passar dos anos sinto o quanto isso é realmente IMPRESCINDÍVEL na minha qualidade de vida. Por ser um assunto que também abordo no meu trabalho, trago aqui para vocês um resumo das principais informações e espero que possa ser útil em vossas vidas…e digo que vale cada segundo investido nessa leitura 😉.

Imagem: freepik.

Os seres humanos evoluíram para o movimento físico.

Ao contrário de nossos primos macacos, os seres humanos exigem altos níveis de atividade física para serem saudáveis, ou seja, para que nossos corpos funcionem normalmente.

Uma nova pesquisa revela que, à medida que a anatomia e o comportamento humanos mudaram nos últimos dois milhões de anos, o mesmo aconteceu com a fisiologia.

Nossa fisiologia se adaptou à atividade física intensiva que a caça e a coleta exigiam no passado, e isso continua inalterado nos dias de hoje.

Quando uma estratégia comportamental – como caça e coleta – se torna a norma, a fisiologia se adapta para acomodar e até mesmo depender dela.

A caça e a coleta exigiam que os hominídeos trabalhassem mais por sua comida. Os caçadores-coletores eram notavelmente ativos, normalmente cobrindo de 9 a 14 quilômetros por dia a pé – cerca de 12.000 a 18.000 passos.

Temos de nos mover para sobreviver. Em humanos,  níveis baixo de atividade física é uma receita para sérios problemas de saúde. Dar menos de 10.000 passos diários está associado ao aumento do risco de doenças cardiovasculares e metabólicas.

Sentar-se na cadeira ou no sofá, passar horas de frente para a televisão ou grudado nas telas de computador/tablet/telefone, por períodos prolongados, está associado ao aumento do risco de doença e a uma vida útil mais curta, mesmo entre as pessoas que se exercitam.

Em todo o mundo, a inatividade física está indiscutivelmente a par com o tabagismo como um risco para a saúde, matando mais de cinco milhões de pessoas anualmente. Entre os adultos escoceses, aqueles que assistiam a mais de duas horas de televisão por dia tiveram um aumento de 125% em eventos cardíacos, como ataque cardíaco ou derrame. Um estudo em adultos australianos relatou que cada hora acumulada assistindo televisão encurtou a expectativa de vida em 22 minutos.

Atividade Física não é opcional; é essencial.

Raichlen e seus colegas mostraram que nosso cérebro evoluiu para recompensar a atividade física prolongada, produzindo endocanabinóides, em resposta ao exercício aeróbico. Raichlen e outros até argumentaram que o exercício ajudou a permitir a expansão maciça do cérebro humano e que evoluímos para exigir atividade física para o desenvolvimento normal do cérebro. O exercício causa a liberação de moléculas neurotróficas que promovem a neurogênese e o crescimento do cérebro, e é conhecido por melhorar a memória e evitar o declínio cognitivo relacionado à idade.

Nossos motores metabólicos evoluíram para acomodar o aumento da atividade também.

Todas essas evidências apontam para uma nova maneira de pensar sobre a atividade física, mostrando que o exercício não é opcional, é essencial, e a perda de peso é provavelmente o único benefício para a saúde que em grande parte não consegue entregar facilmente. Ou seja, fazer exercício tendo como objetivo apenas a perda de peso, sem levar em consideração todos os outros fatores determinantes para o bom funcionamento do corpo (metabolicamente falando), é ineficaz.

Nossos corpos foram evoluídos para exigir atividade física diária e, consequentemente, fazendo o corpo funcionar melhor.

Avanços recentes na área metabólica mostraram que os músculos em exercício liberam centenas de moléculas de sinalização no corpo, e estamos apenas começando a aprender toda a extensão de seu alcance fisiológico. O exercício de resistência reduz a inflamação crônica, um sério fator de risco para doenças cardiovasculares. Ele reduz os níveis de repouso dos hormônios esteroides testosterona, estrogênio e progesterona, o que ajuda a explicar a taxa reduzida de cânceres reprodutivos entre os adultos que se exercitam regularmente. O exercício pode atenuar o aumento matinal do cortisol, o hormônio do estresse. É conhecido por reduzir a insensibilidade à insulina, o mecanismo imediato por trás do diabetes tipo 2, e ajuda a transportar a glicose para as reservas de glicogênio muscular em vez de gordura. O exercício regular melhora a eficácia do nosso sistema imunológico para evitar infecções, especialmente à medida que envelhecemos. Mesmo a atividade leve, como ficar em pé em vez de sentar, faz com que os músculos produzam enzimas que ajudam a limpar a gordura do sangue circulante.

Mas não precisamos voltar a virar caçadores-coletores ou correr maratonas. Em questão de obter os benefícios de uma vida ativa, o volume importa mais do que a intensidade, e isso quer dizer ficar mais tempo em pé e se mover em intervalos regulares durante todo o dia,  desde o nascer do sol até o anoitecer, acumulando mais de duas horas de atividade física por dia, a maior parte como caminhada e andar. Isso corresponde a dizer que se você passa o dia inteiro sentado (em casa, no trabalho, no carro, no transporte público, nas filas de espera, e etc.), aquela horinha de atividade no começo-ou meio-ou final do dia, pode não ser suficiente para neutralizar todos os efeitos negativos no corpo de ter passado o dia inteiro sem movimento constante.

Uma boa maneira de verificar o quanto estamos no movimentando, é utilizar um pedômetro, que é um relógio simples, e bastante acessível, que monitora a quantidade diária de passos que damos, bem como a distâncias percorrida.

O exercício foi inevitável, natural e abundante durante os últimos dois milhões de anos de evolução da nossa espécie, ou seja, não tínhamos a preocupação de procurar o movimento. Hoje, porém, isso é um grande desafio, pois o ambiente onde vivemos está com excesso de praticidade e facilidade de locomoção e comunicação, juntando a modernidade tecnológica onde resolvemos tudo em apenas um click nas telas, somando as socializações digitais (redes sociais), e por fim a abundância alimentar com comidas exageradamente calóricas e ultraprocessadas. Mas mesmo diante deste cenário, ainda é possível sim trazer mais movimento para a vida moderna, honrando e dando o devido uso à esta máquina brilhante que é o corpo humano.

Se você está em terapia comigo, pode solicitar este tema para ser abordado durante as nossas sessões, onde partilho um guia bastante eficaz para que o movimento faça parte da sua vida de uma forma leve, divertida e eficaz.

Esse texto teve como base o artigo publicado com o título “Evolved to Exercise” na “Scientific American”320, 1, 22-29 (janeiro de 2019) /DOI:10.1038/ scientificamerican0119-22. A tradução foi livre e adaptada para fins educativos.

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